Preço alto embala etiquetas internacionais, peças exclusivas e atendimento vip

Instalado em um nicho sem crise, o empresário Fernando Capoani prepara expansão da loja.

Curitiba – Em contraponto a uma parcela significativa do país que vive na completa miséria, o mercado de alto luxo brasileiro cresce em ritmo acelerado. Sem números oficiais, especialistas da área arriscam dizer que o segmento cresceu mais de 30% nos últimos cinco anos. Só em 2004 o mercado de marcas nacionais e internacionais famosas, que leva uma calça jeans a custar mais de R$ 2 mil, movimentou cerca de US$ 2,2 bilhões no país. O número envolve desde vestuário e acessórios, até carros e imóveis de alto padrão. O valor é modesto, se comparado aos dos mercados europeu e americano (juntos, eles faturaram cerca de US$ 800 bilhões em 2004), mas as perspectivas são de crescimento também para os próximos meses.

“Uma das explicações para isto é o fato de o dinheiro ter mudado de mãos no Brasil, fenômeno que criou uma nova classe social, a dos emergentes”, explica o arquiteto Mário Campos Siqueira, coordenador do curso de extensão universitária “Luxo e Cultura”, do centro universitário Unicenp. “Esta parcela bem-sucedida da sociedade busca no luxo uma forma de afirmação. São essas pessoas que estão sustentando esse mercado. Até porque quem comprou um relógio Rolex há dez anos continua usando o mesmo.” De acordo com o professor, o curso foi criado para capacitar a mão-de-obra que esse crescimento exige. “A figura do vendedor desaparece e surge a do consultor. As pessoas precisam conhecer a trajetória das marcas de luxo para vendê-las.”

Segundo o consultor Carlos Ferreirinha, coordenador do curso de MBA em Luxo, da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, o crescimento deve se manter por volta dos 30% em 2005. “73% desse mercado está em São Paulo”, assegura. Apesar da concentração na capital paulista, há alguns anos Curitiba começou a se destacar no segmento, inclusive com representações de marcas que antes só eram vendidas na capita paulista ou no exterior.

É o caso da grife italiana de roupa feminina Max Mara, que tem 1,3 mil pontos de negócio no mundo, e apenas três lojas no Brasil. Duas em São Paulo e uma em Curitiba. Segundo a gerente da loja curitibana, Judy Stammer, a unidade recebe clientes do Brasil inteiro. “Tenho clientes do Pará ao Rio Grande do Sul, que preferem vir fazer compras aqui, já que a cidade é mais tranqüila que São Paulo”, conta. Um terno feminino, de acordo com a gerente, custa na loja entre R$ 2 mil e R$ 3 mil. “Um vestido de festa pode chegar a R$ 8 mil, mas as mulheres pagam pela qualidade, porque a cliente que veste Max Mara se destaca em qualquer parte do mundo.”

Multimarcas

A parte mais expressiva do mercado de luxo em ascensão, no entanto, é a das lojas multimarcas, que reúnem várias grifes em um mesmo espaço. Um dos exemplos é a Capoani, instalada há 3 anos em uma mansão tombada no bairro Batel. O proprietário da loja, Fernando Capoani, conta que investiu no espaço para atender a uma demanda que já existia na cidade, mas estava oculta. “Queríamos atender a um público que já consumia essas peças ao viajar para o exterior ou mesmo para São Paulo. Sem dúvida, Curitiba tem mercado para esse segmento.”

Na loja – e em alguns casos, só nela – estão marcas como Versace Classic, Dolce & Gabbana, Prada, Ermenegildo Zegna e a mais recente mania do momento entre as marcas de jeans, a italiana Diesel. O último lançamento da marca, uma calça jeans artesanal, está sendo vendido na loja por mais de R$ 2 mil. Segundo Capoani, estão à venda 13 das 60 unidades importadas pelos representantes brasileiros da Diesel. “Em Curitiba, somos o único lugar.”

Segundo o empresário, Curitiba está em destaque em relação a outras cidades do país no que diz respeito ao mercado de luxo, e há inclusive um turismo de consumo. “Muitas pessoas vem do interior do estado, de Santa Catarina ou mesmo do Rio Grande do Sul para passar o dia fazendo compras”, comenta. “Esse mercado tem dois fatores importantes: o da qualidade, sustentado pelas pessoas que podem pagar por ela, e o outro ligado à necessidade que as pessoas têm de consumir determinados produtos.”