Escavaes de Nide Guidon, no Piau, podem mostrar ocupao mais antiga que no Chile

Como Tom Dillehay, que esperou duas décadas antes de ter confirmada a
antiguidade do sítio de Monte Verde, no Chile, a arqueóloga brasileira Niéde
Guidon está confiante em que seu trabalho também acabará reconhecido. Ela fez
descobertas interessantes, na década passada, no Parque da Serra da Capivara,
uma reserva de 1.300 quilômetros quadrados, no sudeste do Piauí.
As escavações feitas na base de uma estrutura rochosa de 150 metros de altura, a
Toca do Boqueirão, revelaram a existência de carvão típico de fogueiras, com 48
mil anos. Mas eles podem ser ainda mais antigos.
A teoria defendida pela arqueóloga é a de que o local já era ocupado há uns 50
mil anos. As fogueiras, interpreta, foram feitas por pequenos grupos de
caçadores pré-históricos. Especialistas norte-americanos, entre eles Betty
Meggers, argumentam que esses carvões são de incêndios naturais.
Niéde Guidon disse ao Estado que o argumento de Meggers não pode mais ser
invocado: "Escavamos uma área imensa, além da base da Toca do Boqueirão, e não
encontramos um único sinal desses restos de fogueiras". Se a arqueóloga
norte-americana tivesse razão, rebate Niéde, "então encontraríamos muito mais
dessas formações que só existem no refúgio da Toca do Boqueirão".
Também David Meltzer, que participa das investigações em Monte Verde, esteve em
Serra da Capivara. Para ele, os seixos de quartzo lascado encontrados na base do
abrigo, que Niéde Guidon sustenta terem sido esculpidos por mãos humanas, seriam
formações acidentais, produzidas por pequenos blocos rochosos que despencaram do
topo rochoso. A antropóloga brasileira refuta esse argumento com base na
gravitação newtoniana. Ela escalou a formação e, de lá, atirou os blocos para
demonstrar que eles não podem descrever uma curva e se depositarem exatamente na
base do bloco. A rocha é ligeiramente arqueada e por isso mesmo forma um abrigo
natural para agrupamentos humanos. A teoria sustentada por Niéde é que pode ter
havido uma chegada por mar e não houve um ponto privilegiado para a ocupação da
América, caso da ponte de gelo de Behing. A América, diz, "certamente foi
ocupada de várias maneiras diferentes".